sábado, 24 de abril de 2010

ESPETÁCULO: A OUTRA METADE DO CÉU
CONCEPÇÃO: Diego Vitorino
COREÓGRAFOS: Diego Vitorino, Ibelise Martins e André Luis Marinho



A outra metade do Céu é como os chineses definem a mulher. Como feita do céu, deve ser sempre bonita e gentil. O Valor concedido á mulher vem do homem e ela deve ser tudo aqui que ele espera dela. Essa designação ratifica a posição submissa da mulher, sobretudo no regime patriarcal. Este espetáculo apresenta momentos do processo de transformação dos apeis sexuais a medida que se desenvolve a modernização que atinge uso e costumes, ditando novas formas de socialização e comportamento. Houve uma evolução dessa participação com as mudanças sócio culturais e políticas que ocorreram no cenário mundial e existe um reconhecimento da sociedade pela ação política das mulheres. Infelismente, ainda há muita resistência com relação aos espaços políticos serem ocupados por mulheres. Por meio de conversas informais acerca de questões sobre a representação social da mulher surgiu a idéia de mostrar a transição de um poder dominante masculino para um amadurecimento de uma forma consolidada de imposição de valores femininos.

Um POUcO Mais DetALhAdO....

A primeira parte do trabalho é o Surgimento. O ser Homem,o ser Mulher, como eles se organizam,quais são seus pensamentos, seu jeito de agir,seus princípios individuais, sendo exposto para a sociedade. A mulher o emocional, o Homem a lógica.

A função do Homem naquela época era um papel de poder, de estar fora de casa trabalhando, construindo, produzindo e trazendo dinheiro pra casa. Eram insensíveis, arrogante, reservado,frio,prepotente,autoritário,rebelde,dominador,sínico,exibicionista,incapaz de controlar desejos, sua valentia encobre o enorme medo que tem do desamparo, de aceitar sua receptividade,de ter consciência da dor. Princípios pré estabelecidos que até hoje se faz presente na sociedade de que o homem não pode chorar,que tem mostrar que não tem medo de nada, sua prioridade é fazer com que para os demais colegas,amigos,família,mulheres que comprove sua masculinidade,ele é testado a todo momento. “ser homem não é natural, é um condicionamento.” Ele esta sempre sendo desafiado,se defendendo, ele é provocado o tempo inteiro. Como o homem pode exercitar sua sensibilidade obrigado a reiterar seu sexo eternamente? Esta é o segunda momento: O Dominante.

Hellmuth Petsche, especialista em questões da atividade cerebral da Universidade de Viena realizou Eletroencefalogramas em 20 mulheres e homens que trabalham como tradutores simultâneos e constatou diferenças básicas entre eles e elas na maneira de escutar,compreender,traduzir e falar. As Mulheres trabalham com o hemisfério direito do cérebro, responsável pela criatividade e pela musicalidade,que funciona de modo integral associativo e emocional,capacidade intuitiva para interpretação de sinais comunicativos. Elas Costumam usar afirmações como: “não poderíamos” e “não seria ruim se..”e usam perguntas curtas para confirmar seu ponto de vista e retórica para se fazer entender. Os Homens trabalham com o hemisfério esquerdo, atribuídas as faculdades do pensamento lógico e analista,a escrita e os cálculos. São mais diretos e dominantes. Entre Homem e Mulher pode-se dizer que há uma matemática nos seus comportamentos.
Homem e Mulher na Sociedade Patriarcal. Como era a relação entre eles naquela época,a familia. Uma imensa legião de agregados submetidos à autoridade indiscutível que emanava da temida e venerada figura do patriarca. Temida, porque possuía o direito de controlar a vida e as propriedades de sua mulher e filhos; venerada, porque o patriarca encarnava, no coração e na mente de seus comandados, todas as virtudes e qualidades possíveis a um ser humano. O Patriarca é o nosso terceiro momento.


HISTORIA DE MAN-TS’ANG

Entre essas mulheres, se encontrou a de Man-ts'ang, um camponês pobre. Quando chegou, depois de uma reunião da associação feminina, seu marido lhe espancou: "Vou te ensinar a ficar em casa!" Porém a esposa de Man-ts'ang assombrou grandemente a seu senhor e amo; em vez de obedecer-lhe como escrava sacrificada, no dia seguinte foi procurar a secretária da associação, e deu queixa de seu marido. A secretária convocou uma reunião de mulheres do povo. Pelo menos uma terça parte, talvez a metade da população feminina, respondeu à convocação. Perante a assembléia sem precedente de mulheres resolutas, Man-ts'ang foi requerido para explicar-se. Ele o fez com gosto, em um tom arrogante e categórico. Declarou que espancava sua mulher porque ia a reuniões e que "as mulheres não iam aí mais que para exibir sua coqueteria e sedução”.

Essa observação suscitou vivos protestos da assistência feminina. A palavra deixou lugar rapidamente à ação. As mulheres se lançaram sobre ele, o derrubaram, lhe rasgaram as roupas, lhe esbofetearam, lhe puxaram os cabelos, o surraram até que lhe faltava a respiração. "Tu queres surrá-la, êh? Fala, pois. Surrá-la e caluniar-nos a todas, êh? Toma! Maldita seja tua mãe! Talvez isto te ensine a comportar-te!" "_ Parem, não a surrarei jamais!", disse com voz rouca o aterrorizado marido, meio desmaiado pelos golpes. Elas se detêm, o soltam e o deixam partir, porém prevenindo-o de que se levanta outra vez um só dedo para sua mulher, receberá o mesmo tratamento.

A partir desse dia, Man-ts'ang não ousou mais bater em sua mulher; em seguida ela foi conhecida no povoado sob seu nome de solteira, em lugar de ser simplesmente apontada como "a esposa de Man-ts'ang, segundo o costume ancestral...

Assim acontecia o que as mulheres chamavam "a grande subversão", e ainda se os maridos nem sempre aprovassem imediatamente suas atividades sociais, aprenderam a mostrar-se muito mais circunspetos frente a elas. Em geral, a associação das mulheres estava obrigada a passar por esta primeira etapa para assegurar um mínimo de segurança às mulheres que queriam comprometer-se na luta.

Esse é um dos primeiros momentos onde a mulher começa a se rebelar contra os homens buscando a sua liberdade.

Chega a época da revolução industrial incorporando o trabalho da mulher no mundo da fábrica, separou o trabalho doméstico do trabalho remunerado fora do lar. A mulher foi incorporada subalternamente ao trabalho fabril. Em fases de ampliação da produção se incorporava a mão de obra feminina junto à masculina. As lutas entre Homens e Mulheres trabalhadoras estão presentes em todo o processo da revolução, a luta contra o sistema capitalista de produção aparecia permeada pela questão de Gênero. A questão de gênero colocava-se como um ponto de impasse na consciência de classe do trabalhador.
Assim, nasceu a luta das mulheres por melhores condições de trabalho. Já no século XIX havia movimento de mulheres reivindicando direitos trabalhistas, igualdade de jornada de trabalho para homens e mulheres e o direito de voto. Ao ser incorporada ao mundo do trabalho fabril a mulher passou a ter uma dupla jornada de trabalho.
No século XX as mulheres começaram uma luta organizada em defesa de seus direitos. A luta das mulheres contra as formas de opressão a que eram submetidas foi denominada de feminismo e a organização das mulheres em prol de melhorias na infra-estrutura social foi conhecida como movimento de mulheres. A luta feminina também tem divisões dentro dela. Os valores morais impostos às mulheres durante muito tempo, dificultaram a luta pelo direito de igualdade. As mulheres que assumiram o movimento feminista foram vistas como "mal amadas" e discriminadas pelos homens e também pelas mulheres que aceitavam o seu papel de submissas na sociedade patriarcal.
A luta feminina é uma busca de construir novos valores sociais, nova moral e nova cultura. É uma luta pela democracia, que deve nascer da igualdade entre homens e mulheres e evoluir para a igualdade entre todos os homens, suprimindo as desigualdades de classe. Quarto momento: A Revolução.

Após a década de 1940 cresceu a incorporação da força de trabalho feminina no mercado de trabalho, havendo uma diversificação do tipo de ocupações assumidas pelas mulheres. Porém, no Brasil, foi na década de 1970 que a mulher passou a ingressar de forma mais acentuada no mercado de trabalho. A mulher ainda ocupa as atividades relacionadas aos serviços de cuidar (nos hospitais, a maioria das mulheres são enfermeiras e atendentes, são professoras, educadoras em creches), serviços domésticos(ser doméstica), comerciarias e uma pequena parcela na indústria e na agricultura.
No final dos anos 1970 surgem movimentos sindicais e movimentos feministas no Brasil. A desigualdade de classe juntou os dois sexos na luta por melhores condições de vida. O movimento sindical começou a assumir a luta pelos direitos da mulher. Na década de 1980, quando nasceu a CUT, a bandeira das mulheres ganhou mais visibilidade dentro do movimento sindical. Surgiu na década de 1980 a Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora, na CUT.
A luta pela democratização das relações de gênero persistiu e com a Constituição Federal de 1988 a mulher conquistou a igualdade jurídica. O homem deixou de ser o chefe da família e a mulher passou a ser considerada um ser tão capaz quanto o homem.
Na década de 1990, no Brasil, a classe trabalhadora enfrentou o problema da desestruturação do mercado de trabalho, da redução do salário e da precarização do emprego. As mulheres são as mais atingidas pela precarização do trabalho e pela gravidade da falta de investimentos em equipamentos sociais (creches, escolas, hospitais). Embora sejam mais empregáveis que os homens, isso decorre da persistente desigualdade da remuneração do trabalho da mulher. A mulher passou a ter um nível educacional igual e as vezes até superior ao do homem, porque como enfrenta o preconceito no mundo do trabalho, ela deve se mostrar mais preparada e com maior escolarização para ocupar cargos que ainda são subalternos.
Os critérios de contratação das mulheres no mundo do trabalho estão impregnados pela imagem da mulher construída pela mídia e colocada como padrão de beleza. O empregador ainda busca a moça de "boa aparência". Assim, as mulheres sofrem dupla pressão no mercado de trabalho, a exigência de qualificação profissional e da aparência física. O assédio sexual ainda é uma realidade para a mulher no mundo do trabalho, isso decorre da própria cultura patriarcal que foi colocando o homem como o senhor do corpo da mulher.
Apesar de tantas dificuldades as mulheres conquistaram um espaço de respeito dentro da sociedade. As relações ainda não são de igualdade e harmonia entre os gênero feminino e o masculino. O homem ainda atribui à mulher a dupla jornada, já que o lar é sua responsabilidade, mas muitos valores sobre as mulheres já estão mudando. O homem também está em conflito com o papel que foi construído socialmente para ele, hoje ser homem não é nada fácil, pois as mulheres passaram a exigir dele um novo comportamento que ele ainda está construindo.
Quando a igualdade de gênero se coloca, cresce o espaço da democracia dentro da espécie humana. A democratização efetiva da sociedade humana passa pela discussão das relações de gênero, neste sentido a luta das mulheres não está relacionada apenas aos seus interesses imediatos, mas aos interesses gerais da humanidade. Quinto momento: A Igualdade.
E como seria o futuro? Ainda vai haver muitos conflitos sociais, a individualidade, a busca de fazer o melhor independente de sexo, mais também vai surgir o amadurecimento e o aprendizado aos convívios entre homem e mulher, homem na sociedade,mulher na sociedade e o homem e a mulher na sociedade.

O espetáculo também apresentado na versão mais curta no Casa Aberta no Teatro Vila Velha, um trecho no Dia D da Dança no Teatro Castro Alves e na Universidade Federal da Bahia- Dança, todos em 2009.

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